Depois de dois anos de produção, a Família Lima apresenta o projeto mais ousado de sua carreira: Carmina Burana. Inspirado na obra do alemão Carl Orff, o lançamento do álbum está diretamente relacionado à nova fase do grupo, agora independente. Uma prova disso são as 24 faixas do disco, a maioria em latim. "Quando estávamos terminando o lançamento do último CD, Família Lima 10 Anos (2007), já com a cabeça e todo o espírito no mundo independente, quebrando todas as amarras que a gente tinha, começamos a experimentar", explica Lucas Lima, vocalista do grupo e responsável pala produção e direção musical do álbum.
Carmina Burana, mais do que uma mudança no repertório, representa também uma nova postura do grupo em relação ao mercado fonográfico e também ao público. "Houve um disco em que não tivemos controle nenhum, o Giro o Mundo (2001), que queimou nosso filme absurdamente. Não pudemos escolher repertório, nem arranjos e a única coisa que conseguimos foi colocar duas composições minhas e uma regravação dos Beatles. O resto foram umas regravações de Ricky Martin, que eu não estou aqui pra dizer se é bom ou ruim, mas que não tem nada a ver com o nosso som. No caso do Carmina Burana, a escolha foi completamente diferente de todos os outros discos. Não tivemos filtro, queríamos fazer todas as que achássemos legais. É totalmente egoísta mesmo e pode até ser que a gente perca metade do nosso público, mas os que restarem são aqueles que vão ficar mesmo. E isso é muito mais legal", desabafa. "Uma das piores situações para um artista é o 'morno'. Eu prefiro que dez mil me odeiem e três gostem realmente do meu trabalho. E a Família Lima tinha um pouco disso, as pessoas diziam 'não sou muito fã, mas respeito'. E é um saco isso. Então eu propus fazermos algo no qual acreditássemos mesmo, ao invés de repetir coisas como fazíamos antes", completa.
Além das 24 faixas, o álbum também conta com um DVD que traz o making of do processo de gravação, clipe das músicas Inverno, O Fortuna e Obsession, letras e tradução de todas as faixas do CD, fotos de bastidores, ficha técnica completa e imagens do Crossover - um projeto de música eletrônica produzido pelo violinista do grupo, Amon-Rá. Tudo isso, segundo Lucas, como alternativa àqueles que desejam consumir a obra em todas as suas linguagens. "A pirataria já venceu, não há mais mercado de venda de discos. Então alguns artistas decidiram competir com o pirata, fazem encartes com caixinha em papelão e conseguem chegar a três reais para a distribuição do disco. Nós fizemos um encarte com muito cuidado e isso é importante, tem tudo a ver com a obra. A música nunca foi uma arte só auditiva. Eu ainda gosto e acho que um encarte complementa o disco. E a pirataria nos faz perder isso", explica.
No meio de tantas mudanças, de acordo com o discurso de Lucas, o conceito da palavra sucesso também já não é o mesmo para a Família Lima. "Hoje trabalhamos para nós, simplesmente para a nossa música. Não nos falta vender tantos discos ou tocar em tantos lugares. Meu tio (Flávio Scholles), que foi o artista plástico do disco, falou uma frase que mudou a minha vida. Ele disse que o artista de verdade tem que saber duas coisas: fazer o que ele precisa para comer e aprender a comer pouco. Essa frase faz tanto sentido e nos faz perceber que tem tanta coisa que a gente acha que precisa, que é sinônimo de sucesso, e na verdade não é. Quando conseguimos lançar este disco e depois de tanto trabalho fazer o lançamento no auditório do Ibirapuera, sabendo que quem foi lá foi para ouvir a nossa música, eu penso: o que mais eu posso querer?", conclui.
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